O apelo de uma cigana ao seu Mestre!

Hoje, Mestre, não vim te trazer meu bailado, nem vou abrir meu carteado! Vim te dizer que quando parti de nossa tzara eu te deixei com o coração partido, mas, a certeza de que eu teria sua benção me fez mais forte, saber que as portas sempre estariam abertas me aliviou a alma e segui em minha jornada, levando comigo o nome da Prado Cortez! Honrei nosso povo, ergui nossa bandeira cigana, exaltei seu nome, meu grande mestre, por onde andei, e bailei como nas noites de lua que somente vi em nossa terra!

Lutei muito, sofri com a saudade, mas, os ciganos não criam raízes, procurei buscar a evolução para ocupar a mente já que o coração não podia mais aguentar de tanta angústia! Quando minha fé se esmorecia eu buscava em nosso povo a força para me manter em pé! A esperança de um retorno me acalentava e assim segui meu caminho... entre uma lágrima e outra...

Sorte daquele que tem seu Mestre por perto para se nutrir de seus conselhos, aprendizados e até mesmo de suas broncas! Um Mestre é mais que um pai, ao menos para mim é!
Agora o retorno está mais próximo e onde está meu "pai" nesse momento? a caravana astral me guiou até aqui e me leva de volta ao meu solo sagrado... e a nossa caravana? para onde foi? A Tzara Prado Cortez seguiu estrada também? Onde foi parar a sua promessa de que eu sempre seria uma filha da Prado Cortez? Agora me sinto uma filha, sim, porém, orfã! Eu nunca desisti, mesmo ante as maiores e mais dolorosas provações... e você, pai? onde está, meu Mestre? Não quero ver as ruínas de um sonho distante, daquilo que um dia já foi real... das noites de lua cheia, nossos bailados diante da fogueira, o vinho que aquecia e alegrava, as músicas gitanas, alegres rumbas e também os lamentos ciganos ... um dia eu estive nesse universo que foi toda a minha essência e que até hoje carrego comigo! Ainda sou aquela cigana que bailou de pés descalços sentindo a energia da Mãe Terra, de olhos fechados a rodopiar ao sabor do vento, que chorou em silêncio em seus braços as dores de um amor desencontrado por um gadjé tão indiferente e que sempre esteve tatuado em meu coração! Entretanto, aprendi a amar de uma forma que somente uma legítima cigana sabe amar, com muita dignidade apesar de tanta dor!
Mestre, você me falou dos mistérios de nossos povos, falou das pirâmides, das magias, do conceito e me aceitou como sou: uma feiticeira cigana, porém, pra sempre sua filha!

Eu não vou deixar que aquelas noites se percam ao raiar do sol! Sou cigana, sou bruxa, sou mulher e tenho minhas metas e contigo aprendi a ser uma cigana forte e determinada! Sou Roberta Prado Cortez e o sangue cigano corre quente em minhas veias com toda sua força e magia! Os ventos que nos levaram estão nos trazendo de volta e saiba que, de alguma forma, já está determinado na Terra e no Universo, que a caravana montará seu acampamento e se fará mais firme ainda, em nome do nosso clã Kalon, em nome de Santa Sarah Kali, em nome de Deus e da Deusa e por Esmeralda Garcia, a cigana feiticeira que guia meus caminhos!
Que assim seja e assim será! Optchá!